domingo, 24 de outubro de 2010


O cinema francês tem sido uma caixinha de surpresas. Algumas vezes me decepciona de uma forma que eu juro nunca mais perder tempo com ele, mas outras vezes, me apresenta trabalhos tão bem elaborados que se redime de tudo. Este O profeta , felizmente, é um exemplo do segundo grupo, um filme destes que faz a gente se envolver e se questionar.

Direção e interpretações incríveis. Nunca tinha visto nada deste diretor, Jacques Audiard  (pelo jeito não chegou muita coisa dele ao Brasil) mas desde já me tornei fã dele e dos atores Tahar Rahim e Niels Arestrup. Tahar faz um trabalho maravilhoso como o garoto que entra na prisão de forma inocente e aos poucos vai se promiscuindo com as atividades subversivas e criminosas do ambiente e se transforma em uma pessoa tão perigosa quanto os demais a sua volta. O ator sabe levar toda esta transformação "sem perder a ternura", o que é a marca mais forte do personagem. Arestrup tem jeito de ser um daqueles grandes atores de teatro, com cara de quem seria um excelenet Rei Lear, e neste filme faz um trabalho de muita intensidade como o mestre, protetor e ao mesmo tempo corruptor do jovem presidiário feito por Rahim. Sintonia perfeita de dois atores de gerações diferentes.

Filmes de prisão sempre me antipatizaram um pouco, mas O profeta extrapola o clichê do estilo de ser apenas uma denúncia social ao sistema carcerário e fala sobre a tarjetória de seres humanos bem complexos e de como a necessidade de sobrevivência podem transformá-los.

A exploração de grupos étnicos já é algo bem usual no cinema europeu, muitas vezes utilizado como charariz comercial por retratar as tensões políticas atuais. Neste filme, temos árabes e corsos lutando por poder dentro e fora da prisão, mas o conflito aqui é muito bem embasado e não cai no sensacionalismo político de muitos outros. A questão da mediunidade do personagem central, que dá título ao filme, é exposta de forma discreta e reforça a teoria de que a traletória dele é algo que tinha que ser cumprida para aprendizagem e crescimento.

Acho difícil um filme conseguir equilibrar crítica social e questões transcedentais e O profeta conseguiu dar um formato interessante para a união dos dois temas, por isso gostei tanto.

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