quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011



Decididamente este não é um dos melhores filme de 2010 e nem é o melhor representante da categoria indie no pacote do Oscar dos últimos anos. (Como categoria indie, entenda-se as produções americanas alternativas como “Juno”, “Preciosa” e “Pequena Missa Sunshine”). Isso porque o filme tem um ritmo chato, um ambiente tedioso, uma fotografia sem vida e uma pretensiosa postura cult que não se legitima. Ok, vocês podem até dizer que era isso mesmo que a diretora, Debra Granik, queria construir em seu filme, e também que era essa a sensação de estranheza que queria passar para o espectador. Pois bem, se era isso que ela queria, conseguiu. Mas eu não gostei, achei chato e enfadonho.

Mas é preciso reconhecer duas forças que sustentam o filme: primeiro a interpretação madura de Jennifer Lawrence, a garota é uma grande revelação desta geração, transmite uma segurança incrível quando se expressa como a jovem que precisa sustentar mãe doente e irmãos mais novos após o desaparecimento do pai criminoso. Ela confere a heroína do filme uma coragem quase blasé diante do que precisa enfrentar, como se as situações que aparecem para impedi-la de atingir seu objetivo nada representassem. Gosto muito da cena em que ela ensina seu irmão mais novo a dominar o medo enquanto trata um esquilo morto para refeição.  A segunda força é um roteiro muito curioso, onde se consegue entender o sentido de tudo sem ter muitas explicações. Que crime o pai dela cometeu? Por que tantas pessoas da cidade são seus inimigos? Por que o fizeram de vítima depois? Nada está claro no filme, mas tão pouco sentimos falta destas causa uma vez que a questão principal está ali muito bem exposta: a condição de esquecimento e de falta de perspectiva que as pessoas daquela região dos EUA vivem, o quanto aquele ambiente inóspito afeta a humanidade das pessoas e como um ser humano (a garota) pode ter força para ir longe quando acredita em seus propósitos.

Ah, também gosto de John Hawkes, o feioso mais talentoso do cinema americano, que faz o tio da garota. Ele é o protagonista de “Me and you and everyone we know” (esse sim um filme cult de verdade) e tem boas participações em filmes como “Identidade” e “Mar em fúria”.

Detalhe: Jennifer Lawrence fará a jovem Mystica em “X-Men First Class”, estou ansioso para ver isso.

sábado, 29 de janeiro de 2011



Alejandro Iñarritu fez três filmes excelentes nesta década que se encerrou, todos em parceria com o roteirista Guilhermo Arriaga: "Amores brutos", "21 gramas" e "Babel". Seu novo filme, "Biutiful" é sua primeira experiência desassociado do roteirista que sempre criou narrativas baseadas em histórias aparentemente desconctadas que se encontram em algum momento. Eu estava bem desconfiado do que sairia deste trabalho de Iñarritu sem Arriaga, mas o resultado não só me surpreendeu como me deixou completamentes extasiado. Iñarritu provou que é um grande diretor sozinho e que se os três filmes anteriores são tão bons, isso com certeza se deve muito ao seu próprio trabalho.


A história de "Biutiful" apesar de ser contada em uma estrutura diferente, se encaixa perfeitamente na obra do diretor. A eventualidade dos fatos, a condição de  corruptibilidade do ser humano, as personalidades compelxas de seus personagens e o underground dos grandes centros urbanos, tudo alinhado independete de ser um único fio condutor da história ou diversas histórias paralelas.


"Biutiful" apresenta um personagem infeliz feito magistralmente por Javier Bardem (espero que Colin Firth apresente um trabalho realmente muito bom, para estar vencendo dele em todas as premiações), que perdeu o pai ainda criança, tem uma ex-esposa bipolar e duas crianças para sustentar. Ele leva a vida em negócios ilícitos junto ao irmão (que transa com sua ex-esposa), como a exploração de chineses clandestinos na Europa e o mercado de produtos falsificados em parceria com um africanos ilegal na Espanha. Ele tem ainda o estranho poder de falar com os mortos e utiliza isso para ganhar um trocado a mais. Não fosse o cenário já bizarro por definição, ele descobre ter um câncer e estar com os dias de vida contado. Em meio ao caos, o personagem consegue ser poético e imprimir humanidade em todos os ambientes que habita.


O diretor continua fazendio cenas fortes e sem medo de levar o espectador a sensações de desconforto durante todo o filme, mas também mantém o olhar atento a alma de sua personagem principal. Eu diria que em muitos aspectos, este filme leva vantagem em relação aos anteriores por poder se concentrar numa única personalidade por mais tempo. Gosto particularmente da forma como o diretor insere a tragédia sócio-ecônomia de países como a Espanha sem fazer um filme panfletário e também de como utiliza o lado fantástico da comunicação com os mortos nos momentos certos, sem tornar o filme um tratado religioso ou uma fantasia surrealista.

Acostumado com estrelas como Brad Pitt e Cate Blanchett, Iñarritu conta com o nome apenas de Bardem (e já basta) para segurar o lado comercial do elenco, tendo este, apoio em um ótimo elenco de atores desconhecidos , com destaque para o garoto que faz seu filho e a excelente Maricel Alvarez, que faz sua ex-esposa com um ar de Amy Winehouse das classes desfavorecidas. Imperdível.



Esse sim é um filme que merece muitas premiações.

domingo, 23 de janeiro de 2011


Edward Zwick é desses diretores que não conseguem ter uma linha de trabalho definida. Existem muitos deles em Hollywood, tipo Joel Schumacher, sabe? E nessa de fazer um pouco de tudo, ele comete bons acertos , como "Tempo de Glória" e "Diamante de sangue", e erros irreparáveis como "Coragem sob fogo". A verdade é que ele faz basicamente filmes de ações e desta vez decidiu passear por uma área quase desconhecida: a comédia romântica cult "Amor e outras drogas". O resultano é um filme legal mas como momentos bem irregulares. Ele começa muito bem, com um ritmo ágil fazendo paralelo com o assunto tratado que é a abordagem agressiva ao mercado feito pelas áreas comerciais de industrias famacêuticas. Depois faz os pombinhos se conhecerem e o filme vira um revesamente de melodrama barato com comédia besteirol. E o final é o mais aguardado possível.

Ainda assim, gosto do filme por ter dois atores da novíssima geração do cinema em atuações maravilhosas. Anne Hathaway está muito bem como a garota deprimida e doente e Jake Gyllenhall (eu sempre erro o nome dele) faz um ótimo contraponto como o galã engraçado, sedutor e cheio de vida. Eles passam a veracidade da história a despeito de um roteiro perdido e uma direção que se pretendia cult mas não sai do óbvio comercial.

Sobre o excesso de cenas de semi-nudes e sexo, quero acreditar que tudo está relacionado ao fato de que o amor pode ser uma droga tão perigosa e viciante quanto as outras que a Pifzer distribui, mas as vezes pendo que era vontade de fazer o filme vender mais um pouco porque o Jake aparece nu centenas de vezes no filme. Desnecessário.

Ah, legal a história se passar nos anos 90, na época do surgimento do viagra. Saudades daquele período.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Globo de Ouro 2011


Nada diferente das especulações nas premiações do Globo de Ouro 2011 para a categoria cinema.

Eu não tinha dúvidas da vitória de “Minhas mães e meu pai” como Comédia ou Musical , mesmo porque os outros concorrentes eram ridículos, incluindo a tentativa infeliz que Tim Burton fez de atualizar “Alice no país das Maravilhas” . Em Drama, “A rede social” também era o melhor filme, mas por um momento imaginei que “A origem” poderia ganhar pela originalidade da narrativa, ainda bem que não. O trabalho de David Fincher é bem mais maduro que o de Christopher Nolan, o que justifica também o prêmio de direção.

“Cisne negro” deve ser o melhor filme de todos (ainda não vi), mas sua estranheza não deve render muita simpatia dos votantes, mas ele garantiu o prêmio de Atriz – Drama para minha amada Natalie Portman, mais que justo (mesmo sem ver o filme acho isso, devido ao histórico da atriz). Parece que Nicole Kidman também está muito bem (já era hora), mas este é o ano de Natalie Portman, ninguém mexe com isso. Annete Benning, desculpe, vi seu filme e achei o máximo, mas contente-se com o Globo de Ouro de Atriz- Comédia musical , porque o Oscar será de Natalie Portman.

Sobre os atores principais, Colin Firth e Paul Giamatti, fico feliz pelo reconhecimento de ambos e sei que vai dar Colin Firth no Oscar, vi o trailer e achei incrível. Sobre os coadjuvantes em geral, sem muitos comentáriosm aguardo todos os filmes chegarem por aqui no pacote do Oscar 2011. Até lá, tem muita coisa para ver.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Registro: Amy Winehouse e Janelle Monae no Brasil, a bêbada e a equilibrista

Não há como se fugir do cinema, mesmo não indo para ele. Neste final de semana, fui ver a bêbada, Amy Winehouse, e a equilibrista, Janelle Monae, entre as outras boas atrações do Summer Soul Festival. 

Janelle Monaé, através de suas canções, conta a história da androide Cindi Mayweather, que se apaixona por um humano e tem de escapar da polícia para não ser desativada. Mayweather passa a ser uma robô/messias, tendo como missão a libertação de classes oprimidas. Esse tipo de trabalho segue a mesma linha do “The Wall” do Pink Floyd e de “Ziggy Stardust” de David Bowie, um encontro maravilhoso entre música e cinema. Janelle homenageia “Tempos modernos” de Chaplin quando canta “Smiles”, utiliza imagens de “Star wars” durante a música “Cold war”, remixa a trilha sonora de “007 contra Goldfinger”  (é claro que essa informação eu li, não deu pra percerber de ouvido na hora do show, afinal , quem lembra da trilha de Goldfinger?!?), e cria um futuro fantástico a partir de obras e Philip K. Dick,  como “Blade Runner” e “Minority report” , e sobretudo do clássico “Metrópolis “ de Fritz Lang que é a célula mater de todo o trabalho da artista.

Amy Winehouse é música pura e não utiliza a sétima arte diretamente como recurso para sua arte, mas não se pode dizer que ela não faz um show de cinema e seria injusto falar tanto de Janelle quanto a verdadeira estrela da noite foi Amy com sua voz maravilhosa e o clima noir de sua apresentação.

Ao final do show, a conclusão é de que música também é cinema !!

sábado, 15 de janeiro de 2011


No último, concorrido e agitado Noitão do cinema Belas Artes, consegui assistir finalmente a "Pepi, Lucy, Bom y otras chicas del monton" de 1980, primeiro filme de Almodovar. Com isso, posso dizer que já vi quase roda a obra comercial dele, falta apenas "Que fiz para merecer isto?" de 1984.

Sou suspeito para falar de um filme do Almodovar porque acho squalquer coisa que ele faça sempre genial, ainda mais se tiver Carmem Maura no elenco. Em"Pepi, Lucy, bom...", temos o prazer de ver o trabalho de Almodovar em seus aspectos mais brutos, seja em texto, em direção, na interpretação over dos atores, na temática e no visual kistch. Deste filme até hoje ele passou por refinamento estético e de conteúdo, mas sem perder sua personalidade, sem tirar a capacidade de mexer com os sentidos que seu filme tem.

O filme é centrado nas três mulheres do título que vivem diversas situações na cena underground de Madri nos anos 80. Elas são interpretadas respectivamente por Carmem Maura, jovem e dramática como sempre (gente, ela é a alma complementar de Almodovar, tenham certeza), por Eva Silva, que conheço pouco mas dá um show como sadomasoquista e por Alaska que faz a líder de um grupo punk, personagem ,muito parecido com o que ela vivia realmente fora das telas.

Elas passam por momentos curiosos e divertidos como a perda de virgindade de Pepi para não ser presa por cultivar maconha (reproduzida abaixo) e o momento cômico-bizarro em que Bom urina sobre Lucy para lhe dar prazer (procurem essa no youtube que tem lá).

Apesar da precariedade da época, é um pequeno clássico cult e quem gosta de Almodovar não pode deixar de ver.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Eu sei, eu sei, estou bem atrasado em meus comentários sobres os filmes que estou vendo, mas vou tentar o tirar o atraso esses dias falando rapidamente de alguns dos filmes que vi nos últimos meses e não podem deixar de ser registrados. Ok?

Então vamos do mais recente para trás...


Pablo Trapero é com certeza um dos maiores talentos do cinema Argetino. Antes de “Abutres” vi “Leonera” e pondo um ao lado do outro fica fácil perceber que Trapero é um diretor de assinatura. Seus filmes possuem planos bem desenhado, ângulos e enquadramentos não usuais como os utilizados para filmar os acidente e as sequências de socorro em “Abutres”.  São também profundos em seus mergulhos silenciosos por dentro dos personagens, sobretudo sobre o principal, a Argentina, decadente em seus sistemas de saúde (“Abutres”) e carcerário (“Leonera”).

Em “Abutres”, o modo como a relação entre os dois protagonistas é filmada sugere um encontro selvagem que fica aprisionado no medo e estranhamento do outro e vai explodindo aos poucos até chegar ao ápice da obsessão nas cenas finais do filme. A forma como o mundo caótico do advogado fracassado e corrupto, vivido por Ricardo Dárin, vai se encontrando com o ambiente “sem vida” que a paramédica, feita por Martina Gusman, habita, é ao mesmo tempo deprimente e poético. Um encontro suburbano de duas pessoas sem perspectiva que enxergam um no outro a sua própria desgraça e acreditam na relação como uma forma irreverente de dar sentido a vida. Dárin é o grande ator expoente do cinema argentino e tem uma boa performance neste filme, mas é colocado em segundo plano quando está em cena com Martina Gusman, que consegue passar toda a frieza, insegurança e tendência suicida de sua personagem em cada cena que aparece. Ela é muito boa, sabia disso desde “Leonera” que ela protagoniza e agora tive a confirmação. O fato dela ser esposa do diretor e fazer todos os seus filmes é só um detalhe, ela é mesmo competente.

O roteiro do filme também é muito bom, a tensão vai crescendo quando você percebe que não é a paramédica que catequiza o advogado para o seu mundo e sim o contrário, que ele desperta nela a percepção de que um comportamento marginalizado pode ser uma alternativa viável para sua vida. A violência não é economizada, nem nas cenas de acidentes nem durante os atendimentos médicos, mostrando que o lado mais cru e animal das pessoas é o centro da narrativa. As cenas dos acidentes de carro são muito bem feitas e algumas nos assustam de verdade, sobretudo a última delas que eu prefiro não comentar muito por aqui.

O fato é que não acho “Abutres” inesquecível, não mesmo. Na verdade, passei a gostar mais deles hoje, uns dois dias depois que saí do cinema. Mas não de pode negar que é um cinema feito com um alto grau de qualidade.

For your information:  ao pé da letra, o título original "Carancho"deveria ser traduzido no Brasil como Carcára (aquele da música que pega, mata e come) e não como abutres.


Filmes de Clint Eastwood como “Menina de ouro”, “Cartas de Iwo Jima”, “Gran Torino” e “Invictus” estiveram entre as melhores produções da última década, não apenas em termos técnicos, mas também de conteúdo. Em “Além da vida”, a qualidade permanece mas desta vez ela recebe algumas  intervenções que agregam valor...e outras que nem tanto.

Sob a produção executiva de Spielberg, o filme de Clint Eastwood ganhou efeitos especiais que são fundamentais na cena de abertura que retrata a tsunami ocorrida na Ásia há alguns anos. Os mesmo efeitos tornam o filme meio piegas quando mostram a conexão com o “além” através de vultos distorcidos em um fundo branco, bem parecido com um filme ridículo do alguns anos atrás chamado “Os esquecidos” (ridículo, apesar de ter minha musa Juliane Moore).  É interessante observar como o desastre natural é mostrado em toda a sua grandeza mas sem aquele estilo de filme catástrofe e respeitando a proposta do filme que é discutir outro assuntos que não o impacto da tal onda gigante. Na busca de sensacionalismo, esta cena poderia ser um grande chamariz para o público comercial mas isso é evitado de forma inteligente, o desastre é mostrado apenas por sua função na história.

O formato de estorinhas paralelas que se cruzam no final é novo também para Clint Eastwood e com isto ele se dá bem. São três ações diferentes: Em Paris, uma famosa jornalista convive com os efeitos de ter ficado horas em coma após ser vítima de uma tsunami na Ásia; em Londres, um garoto busca videntes para estabelecer contato com seu irmão gêmeo morto em um atropelamento; e em São Francisco, um jovem vidente luta contra seu dom que mais lhe traz problemas que o ajuda, apesar do seu irmão insistir que ele use isso para fazer dinheiro. Cada um destes personagens percorre sua via-crucis pessoal e vivem o seu “hereafter” (nome original do filme, bem mais esclarecedor da proposta que o título brasileiro), até que se encontram para um grand finale.

O aspecto mais interessante do filme é que, apesar de utilizar o contato com a vida após a morte como centro de todas as histórias, o roteiro está mais interessado em discorrer sobre como os personagens lidam com “o depois” do contato com a morte e menos em fazer qualquer discussão religiosa sobre o tema. Assim, “Além da vida” consegue falar de preconceitos, de interesses egoístas, de solidão, de problemas familiares e de uma forma geral, sobre como a consciência e proximidade com a morte dá um sentido diferente à vida.

O elenco é muito bom. Matt Damon tem se tornado um ator cada vez mais sério, mais maduro, e faz um excelente trabalho como vidente. Cécile de France além de ser uma presença iluminada em tela pela sua beleza, faz um ótimo trabalho como a jornalista vítima da tsunami. Mas os gêmeos George e Frankie MacLaren são o melhor do filme, sobretudo no início do filme quando é delicioso ver as cenas de cumplicidade dos personagens para conviver com a mãe irresponsável. Um elenco de bons coadjuvantes incrementa as ações e destes vale citar também Brice Dallas Howard que participa de duas das melhores cenas do filme: o teste-cego de sabores na aula de culinária (sensualíssimo) e a revelação sobre o passado de sua personagem em uma sessão de vidência.

A verdade é que entre essa tsunami de filmes ruins que estão por aí, “Além da vida” não é um banho de cinema, mas consegue ser um alívio refrescante.


Qual sua expectativa quando sai de casa para ir ao cinema ver o filme de um diretor desconhecido de um país cuja cinematorgrafia você conhece menos ainda? Bom, você pode se sentir desinformado e desatualizado porque muita gente vem falando bem desse filme e desse diretor, mas apesar deste sentimento ridículo, o que predomina a expectativa de algo novo e inusitado. E foi mais ou menos tudo isso que eu senti quando saí de casa para ver o concerto do romeno Radu Mihaileanu. E qual o resultado? Um frustrante mais do mesmo. O tradicional formato de cinema bobo embalado como cult e inteligente que se vende em todos os cantos do mundo. Muito parecido como vários filmes que povoaram as telas como o inglês “Ou tudo ou nada”, o argentino “Elsa e Fred” ou o americano “As confissões de Schimidt”, este fala de um grupo de personagens old school que foram massacrados pela dinâmica dos novos tempos, tiveram seus sonhos destruídos e em algum momento possuem a chance mágica de ver uma sonho antigo ser realizado ou uma paixão esquecida ser recuperada e com isso viverem um momento de epifania.

Em “O concerto”, os personagens são os músicos mal sucedidos da companhia de ópera Bolshoi que perderam espaço desde os tempos do regime socialista na Rússia e agora, liderados por seu antigo maestro e por um socialista saudosista, vão tocar Tchaikovsky nov Teatro Châtelet de Paris. Nesta aventura, o grupo de músicos mostra que nem só de  valores nobres estão embebidos e fazem uma verdadeira catarse social em Paris, mostrando-se desesperados por dinheiro e por oportunidades de trabalho e sem nenhum compromisso com o objetivo final que era a realização do concerto. Enquanto todos se esbaldam, o maestro vive um reencontro com uma garota que ele viu nascer na Rússia socialista e após ter seus pais mortos pelo regime foi  enviada clandestinamente para crescer na França onde se tornou uma grande solista, uma estrela da música erudita, o que vem a desestabilizar r totalmente sua segurança para realização do concerto.

A melhor coisa do filme é a palhaçada feita pelos russos em Paris. É mesmo de se morrer de rir. O lado sério da história se sustenta nas ótimas interpretações de  Aleksei Guskov como o maestro e de Mélanie Laurent (atriz que eu adoro desde “Bastardos inglórios”)como a solista. Os dois conseguem dar o mínimo de verdade a um enredo que só não é tão batido porque no final ele não se revela pai dela. Era o que faltava mesmo. Vale destacar também o trabalho de François Berléand como o socialista setentão que ainda acredita na existência de um partido forte e integrado em pleno século XXI.O filme tem o mérito de mostrar a decadência da Rússia atual, seus problemas econômicos e a crise de identidade social das pessoas que atravessaram as diferentes fases da história do país mas deixa muito a desejar quando se trata de narrativa.

Ah, um amigo que entende de música erudita disse que as peças executadas no filme são horrorosas. Eu não conheço o suficiente para criticar, portanto não me envolvo nesta questão. Se o que ele afirma for mesmo verdade, o filme é pior do que imaginava.


Da escola americana de cinema dos anos 70, surgiu uma turma de diretores que dominou pelo menos uma trinta anos da história do cinema americano e que eu divido em basicamente dois grupos: os efeito-especialistas que são Spielberg, George Lucas e seus seguidores como Robert Ziemecks,  e os roteiro-montadores como Martin Scorcese e Briam de Palma. Copolla também é desta geração mas diferente de todos os outros ele não se enquadra em nenhuma das duas categorias especificamente. Tem diversas obras do estilo espetáculo (habilidade máxima dos efeito-especialistas) como “Dracula de Bram Stoker”, e filmes de conteúdo e montagem, especialidade dos roteiro-montadores, como o clássico “Apocalipse now”, mas não focaliza seus trabalho em nenhuma das suas vertentes. Talvez por isso, por eu preferir diretores bem autorais, com marca definida, eu nunca tenha me envolvido o suficiente com  seus filmes. Ele tem obras que eu adoro e seria uma blasfêmia falar mal delas, como a trilogia do Poderoso chefão ou Peggy Sue, mas no geral ele me parece um diretor com bons trabalho pontuais e muitas coisas que param na ideia de serem interessantes. No entanto, esse “Tetro” de alguma forma me soou diferente. Não gostei tanto do filme, mas achei interessante o seu estilo, como se Copolla quisesse começar a falar de algo novo, talvez de si mesmo, e estivesse encontrando o caminho.

Tetro tem um roteiro fraquinho e um final melodramático de novela das seis, mas é plasticamente um espetáculo de verdade, é bem montado e possui cenas e personagens deliciosos de serem vistos. Tem momentos que me lembra Woody Allen, outros que me me lembra Almodovar, mas na verdade é algo diferente de todos estes, até mesmo do próprio Copolla. É um folhetim estilizado, com bons momentos isolados. O elenco é afinadíssimo e a forma de suas interpretações reforça minha tese sobre o tom novelesco que o filme possui: expressões muito marcadas, falas cheias de variações de volume e aquelas pausas dramáticas no meio dos diálogos. Mas não acho nada disso negativo, ao contrário, todos estes elementos se bem sintonizados podem gerar um filme excelente. Não é o caso de Tetro, vejo-o mais como um sinal de algo quepode vir diferente no futuro do que realmente como algo bom de agora.

Atualmente Copolla divide sua vida de cineasta com o hobby de cultivar vinhos na Califórnia, quem sabe eles esteja aprendendo com a bebida a ser melhor com o passar do tempo


Irônico, inteligente, irreverente, cômico, desencantado e reflexivo. São estes os adjetivos que em geral se utiliza para os filmes de Woody Allen. Neste último filme, confirma-se a regra e a marca do autor continua evidente. Tudo junto o tempo inteiro. A ironia e inteligência do roteiro sobre pessoas que vivem em uma ilusão e assim encontram a felicidade e outras que encontram na mais pura realidade, uma vida infeliz.  A irreverência e comicidade do texto e das interpretações, atores que parecem estar se esforçando minimamente para fazer um show com as tiradas cults de suas falas. O desencanto e a reflexividade de uma direção sempre blasé e nunca superficial. As cenas se seguem comum ritmo de maestro, sem pressa mas com objetividade, com elegância mas sem excesso de efeitos. Os fatos se encadeiam de forma a gerar na gente aquela sensação estranha de que podemos fazer parte daquilo que está ali na tela e de talvez vivermos num desses filmes de Woody Allen sem darmos por conta disso.

O filme aproveita os desencontros de diferentes casais para falar sobre como encarar a vida de modo sério ou fantasioso é apenas uma questão de perspectiva. A garota de origem burguesa é casada com um escritor sem sucesso e para pagar as contas precisa da ajuda mãe, recém-separada com mais de 70 anos, que acredita em breve encontrar o homem dos seus sonhos por influência de uma vidente charlatã sugerida pela própria filha que, ainda para complementar o orçamento, arranja um emprego e se apaixona pelo chefe casado o qual começa a ter um caso com sua amiga e não com ela. Seu  casamento com o escritor vai de mal e ele  flerta pela que com uma jovem artista comprometida com alguém que não ama. Nossa protagonista tem ainda um pai metido a garotão que após abandonar a mãe por não aceitar a terceira idade casa com um agarota de programa na expectativa de ter um filho homem em substituição ao que perdeu na juventude e acaba sendo traído e querendo voltar para a ex-esposa. E assim gira a roda de relações frustadas e infelizes amantes que,na visão de Woody Allen, se dão melhor  quando se apegam a uma ilusão verdadeira do que a uma verdade mentirosa. A mulher orientada pela falsa vidente encontra o dito homem dos seus sonhos após uma engraçada disputa com uma falecida e sua filha encara a verdade mentirosa de se dedicar ao casamento e ao final ser abandonada pelo marido e ainda rejeitada pelo possível chefe amante.

Amargurada ou feliz a história? Definir isso não é o que importa e sim compreender onde estamos neste ciclo vicioso de verdades e mentiras. Apenas quem não entendeu a moral da história consegue chegar ao final deste filme sem  reflexões mínimas sobre as coisas que acredita e a forma que conduz suas relações.



(Nossa, que atraso hein?)

Mas bem,"Tropa de Elite 2" foi “O FILME” nacional de 2010 , causando a mesma comoção social que seu primeiro episódio há 3 anos atrás e que realmente não é algo que se passe em branco. Tropa de Elite 2 tem a mesma estrutura do seu antecessor: uma montagem que desrespeita a cronologia dos fatos para apoiar os truques do roteiro, fotografia com tom documentarista, narrativa in off que aproxima o personagem principal das telas e uma direção de elenco incrível...aliás, tem um elenco incrível que nas mãos da preparadora Fátima Toledo apresenta um desempenho incrível, com destaque para Wagner e seu Capitão Nascimento (óbvio) e Irandir Santos como o representante dos Direitos humanos. Observem como os dois conseguem ser antagônicos, sem ser necessariamente maniqueístas. Eles são duas forças que se opõem , mas também se complementam durante todo o filme. O resto do elenco segue o mesmo nível e não dá nem pra dizer quem está melhor porque todos fazem sua parte muito bem, do veterano na série Milhem Cortaz à novata Tainá Muller

Outra coisa que não pode deixar de ser comentada sobre este filme é o seu lado denúncia. A exposição do jogo de interesses políticos que existe entre governo e polícia é feita de um modo muito inteligente, deixando clara a participação de todos os lados no problema. Embora o governo seja o grande vilão do filme, a polícia continua tendo um dedo apontado para si e figuras como o Capitão Nascimento e Matias  (caramba, mataram o cara assim de repente, de uma vez) continuam com seus papéis quixotescos dentro de uma instituição corrompida e desmoralizada.

Não sou fã de filmes em série, ao menos que isto faça sentido ou que o nível se mantenha. Quando anunciaram que haveria a continuação de Tropa de Elite, eu fiquei muito apreensivo, por que muitas vezes o segundo filme é tão ruim que deixamos de gostar do primeiro por pura associação. Mas felizmente não foi isso que aconteceu, o nível não apenas foi mantido como também houve gratas surpresas no roteiro, deslocando a ação para um tempo bem posterior e apresentando outro lado de uma mesma discussão. Se for para manter este padrão, que venha a terceira parte.

Ponto para o cinema nacional.