sábado, 29 de janeiro de 2011



Alejandro Iñarritu fez três filmes excelentes nesta década que se encerrou, todos em parceria com o roteirista Guilhermo Arriaga: "Amores brutos", "21 gramas" e "Babel". Seu novo filme, "Biutiful" é sua primeira experiência desassociado do roteirista que sempre criou narrativas baseadas em histórias aparentemente desconctadas que se encontram em algum momento. Eu estava bem desconfiado do que sairia deste trabalho de Iñarritu sem Arriaga, mas o resultado não só me surpreendeu como me deixou completamentes extasiado. Iñarritu provou que é um grande diretor sozinho e que se os três filmes anteriores são tão bons, isso com certeza se deve muito ao seu próprio trabalho.


A história de "Biutiful" apesar de ser contada em uma estrutura diferente, se encaixa perfeitamente na obra do diretor. A eventualidade dos fatos, a condição de  corruptibilidade do ser humano, as personalidades compelxas de seus personagens e o underground dos grandes centros urbanos, tudo alinhado independete de ser um único fio condutor da história ou diversas histórias paralelas.


"Biutiful" apresenta um personagem infeliz feito magistralmente por Javier Bardem (espero que Colin Firth apresente um trabalho realmente muito bom, para estar vencendo dele em todas as premiações), que perdeu o pai ainda criança, tem uma ex-esposa bipolar e duas crianças para sustentar. Ele leva a vida em negócios ilícitos junto ao irmão (que transa com sua ex-esposa), como a exploração de chineses clandestinos na Europa e o mercado de produtos falsificados em parceria com um africanos ilegal na Espanha. Ele tem ainda o estranho poder de falar com os mortos e utiliza isso para ganhar um trocado a mais. Não fosse o cenário já bizarro por definição, ele descobre ter um câncer e estar com os dias de vida contado. Em meio ao caos, o personagem consegue ser poético e imprimir humanidade em todos os ambientes que habita.


O diretor continua fazendio cenas fortes e sem medo de levar o espectador a sensações de desconforto durante todo o filme, mas também mantém o olhar atento a alma de sua personagem principal. Eu diria que em muitos aspectos, este filme leva vantagem em relação aos anteriores por poder se concentrar numa única personalidade por mais tempo. Gosto particularmente da forma como o diretor insere a tragédia sócio-ecônomia de países como a Espanha sem fazer um filme panfletário e também de como utiliza o lado fantástico da comunicação com os mortos nos momentos certos, sem tornar o filme um tratado religioso ou uma fantasia surrealista.

Acostumado com estrelas como Brad Pitt e Cate Blanchett, Iñarritu conta com o nome apenas de Bardem (e já basta) para segurar o lado comercial do elenco, tendo este, apoio em um ótimo elenco de atores desconhecidos , com destaque para o garoto que faz seu filho e a excelente Maricel Alvarez, que faz sua ex-esposa com um ar de Amy Winehouse das classes desfavorecidas. Imperdível.



Esse sim é um filme que merece muitas premiações.

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